Quem sou eu

Leandro Villela de Azevedo
professor de História
Doutor em História Social pela USP
e-mail: professorleandrovillela@gmail.com
nascido em 1980

Minha especialização, por assim se dizer, é história das religiões e história medieval. Meu mestrado e doutorado seguiram essa linha de pesquisa. Então, a princípio não podemos ver nenhuma relação entre os textos postados aqui e a especialização, motivo pelo qual, por sinal, somos facilmente criticados nesse mundo. Entretanto, sendo professor de ensino fundamental e médio, vejo o sofrimento grande que minhas alunas, alunos, colegas professoras, entre outros, por causa destes falsos padrões de beleza que são divulgados hoje em dia.
Padrões falsos que não correspondem a ninguém verdadeiro. Ainda se fossem padrões de extrema exigência, talvez, ainda pudessem fazer algum sentido lógico, não para mim, mas talvez pudessem ser considerados lógicos. Entretanto, não estamos falando de um padrão que engloba uma porcentagem mínima da população, estamos falando de um padrão que não engloba ninguém. Porque é baseado em maquiagem, cirurgias, retoques com programas de computador, que modificam por completo a pessoa, criando uma ideia falsa do que é uma mulher bela.
Igualmente, há um outro caminho, que é negar ao significado de beleza qualquer outro aspecto que não seja o corpo, jogando fora uma quantidade quase infinita de coisas admiráveis, que trariam consolo a nossos corações, água na boca, até euforia, por que não? E tudo isso para que o único foco seja em coisas artificiais e falsas. Trazendo dor das mulheres que tentam chegar a um padrão inexistente. Dos homens pois começam a achar todas as mulheres feias, e da sociedade inteira porque não consegue enxergar nada que não seja a busca pelo corpo escultural.

Desta forma, mesmo não sendo especialista em nada relacionado ao corpo, creio que uma visão histórica da situação pode ajudar a compreender o que está ocorrendo. Ao meu ver trata-se de um processo que não é tão antigo assim. Embora houvesse a beleza ideal das esculturas gregas, embora houvessem os espartilhos no século passado, não creio que haja qualquer outra época, que não a de agora, onde essa pregação da beleza irreal esteja tão forte. Ligada ao consumo de uma sociedade capitalista onde corpos são mercadoria, e a imagem deles, falsificada, ainda mais.

Fui casado por sete anos (de um namoro de 9) achava minha esposa lindamente fantástica, e via o sofrimento dela com a constante crença de sua feiura, e posso dizer o mesmo para praticamente todas as outras mulheres que conheci. Isso é uma escravidão dolorida. E um sofrimento para os homens também. Ver tantas mulheres maravilhosas crendo que são feias. Denegrindo seu próprio corpo. Minha ex-esposa era muito ciumenta, o que dificultava a conversa com outras mulheres, entretanto, após a separação e a facilidade de conversar, entrevistas, questionar, só me fez ver o que já sabia, a situação está presente em todas as classes sociais e faixas etárias, ao menos em todo o estado de São Paulo, embora, muito provavelmente em todo o Brasil e o mundo.

Um pequeno blog como esse pode alguma coisa? Sinceramente, não sei. Mas digo com certeza que se eu me calar diante dessa situação, sem falar minha opinião, sem fazer odes à beleza real, então também eu terei deixado morrer uma parte do que eu considero belo dentro de mim.